ESSA CARA SOU EU

Alô, galera! Por momentos esqueça o Galo e leia esse texto.


ESSA CARA SOU EU


Sou uma mulher desconhecida. Nasci há 5 mil anos.
Puseram-me o nome de Mariza.
Não me lembro da minha idade, que raiva!
Não conheço nada do mundo. Nunca vi a Torre de Pisa.

Eu quero conhecer as belezas de outrora,
os palácios dos reis, os países, os pintores.
Eu choro, eu sorrio, eu lamento, eu temo, eu esqueço.
Que importa! Eu levo a vida sem pensar nas dores.

Eu desejo viver, de sorte que os anos me sejam leves
e agradecer os momentos felizes, sem nada a temer.
Que todas as gentes do mundo sejam verdadeiros irmãos
para, juntos, cumprir a bela atitude de socorrer.

Eu digo a mim mesma que eu devo fazer o que é preciso,
mas os mecanismos e o poder me faltam. Pena!
Eu não posso estar atrelada à complexidade dos indecisos
que me obrigam a sair de cena!

Se eu tivesse o poder absoluto dessas gentes-lá,
o mundo seria mudado por mim, a meu bel prazer:
todo o universo seria obrigado a conjugar, sem cessar,
o mais importante e carinhoso verbo, “aimer”!

Lembro-me dos meus passeios pelos campos.
Não esqueço jamais minha vida venturosa.
A pequena floresta, os animais, o canto dos pássaros,
livres, espontâneos, encantando minha juventude maravilhosa!

Sob um sol ardente, eu me lembro dos jogos de futebol,
num campinho duro, poeirento, sem gramado.
Meu pai, que foi goleiro, sorria carinhoso, das nossas jogadas,
e, à beira do campo, tudo observava, com minha mãe a seu lado.

Livre, sem amarras, eu brincava, sem questionamentos,
como se eu tivesse as asas de um passarinho.
Meu clone, sempre a meu lado, se divertia também.
Sem medo, mergulhávamos sobre as águas do riachinho.

Eu era pobre, eu me lembro das dificuldades.
As más lembranças não me fazem sofrer.
Não são elas que povoam nossa mente?
Não são elas que nos fazem rejuvenescer?

Não lamento nada, mesmo um amor perdido.
Esqueço minhas lágrimas, meus sonhos, sofrimentos.
Decepcionada, esperei e um novo amor por mim foi vivido.
Confiante, outros caminhos percorri.

Eu me lembro dos meus filhos queridos.
Não esqueço as crianças famintas e os órfãos.
Elas precisam da minha ajuda permanente
e do apoio de solidárias mãos.

Tive sonhos impossíveis, estranhos,
que se tornaram pesadelos a me torturar.
Nunca tive o medo dos fracos,
pois muito gostaria de, cantando, acordar!

Ontem eu era um inverno gelado.
Hoje sou um verão florido, brisa amena.
Quero me lembrar somente de tudo que é belo
e esquecer as coisas que não valem a pena!

Eu me lembro das águas mansas da minha vida
que docemente parecem murmurar.
Que elas me levem em direção à luz de um futuro de paz,
de dias ensolarados, o amor a reinar.

Com o Criador, em comunhão,
por estradas curvas eu caminho.
Ele está sempre em meu coração.

Lembremo-nos do amor, da paixão,
do sucesso, do encantamento.
Esqueçamos o desamor, a estagnação,
a derrota, o lamento.

Podemos mudar o que não nos agrada?
Não somos Deus!
Somos semideuses?


Mariza
2013

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